quinta-feira, 10 de junho de 2010

PRÓLOGO

Talvez seja realmente estranha, a idéia de ver-se num caixão no seu próprio funeral, mas a consciência dos fatos nos aponta as peculiaridades duma realidade atual, livre... “Verídica”. Na medida em que nos enclausuramos na estreita sela de tecido e nervos, o pouco espaço nos condiciona a restrição de sentidos, a costumes e necessidades biológicas, animalescas. O vício e, até mesmo o mais simples costume, também são argumentos da matéria para nos arrancar do caminho que escolhemos com tanto zelo. Não nos viciamos, nosso corpo biológico é que sim. Cabe-nos apenas a coerência com nossa natureza simples, ignorante e sobressairmo-nos a exigência da carne. Tinha total consciência de que ali, desancara somente restos orgânicos e perecíveis. As honras prestadas, porém, eram a mim, que por pura necessidade de referencia ainda emprestava-me ao defunto. Eu que nem pertencia mais aquele plano. O choro enxuto de Midas me comovia, assim como a dor de todos os presentes. Nele repousava o semblante compadecido de quem perdera o irmão. Enquanto ela nem pudera estar lá. Desculpo-me com quem possa interessar, se, muitas vezes, isso não parecer um diário ─ desse escritos dia a dia. Nunca fui muito de escrever e quem diria um diário? Será que existe algo mais mórbido, agora, que um ─ Querido diário, hoje meu enterro foi calmo...?

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